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Conexões. Deleuze e Cosmopolíticas e Ecologias Radicais e Nova Terra e…

Neste volume da Coleção Conexões Deleuze, levamos adiante uma tentativa por fazer ressoar o pensamento de Deleuze com as “Environmental Humanities” onde modos de pensamento moderno como a filosofia, antropologia, educação, comunicação e artes se emaranham com modos extra-modernos de pensamento advindos de perspectivas ameríndias e mais no que humanas, para assim ativar potencias de afirmação do mundo e dos mundos em meio aos tempos catastróficos que temos que vivemos, em meio ao Antropoceno.  

Na primeira parte do livro e levando esta discussão adiante, encontraremos textos de pensadores indígenas como Ailton Krenak e Almires Martins Machado, de antropólogos como Tim Ingold e Stelio Marras, de artistas como Marcelo Moscheta e de filósofos como Déborah Danowski, Luiz B. L. Orlandi, Marco Antonio Valentim, Adrián Cangi, Erik Bordeleau, Brian Massumi e Erin Manning. Estes três últimos, integrantes do SenseLab, parceiro e intercessor chave do evento que deu origem ao livro e onde tomaram lugar as Imediações Aberrantes, serie de ocasiones coletivas de pensamento e de criação orientadas ao processo, onde quisemos questionar a economia e ecologia da universidade que sedimenta e torna impotente o pensamento. Nesse sentido, se a primeira parte do livro pensa como abrir linhas de fuga diante da atual crise ambiental, a segunda parte pensa e experimenta em ato o que é re-existir a uma universidade entristecida que tem esquecido quase que por completo que antes de todo deveria ser o lugar privilegiado para uma radical aventura do pensamento. Nesta segunda parte encontramos textos coletivos como gestos de aprendizagem desviante e colaborativa que abrem potências mais do que humanas e impessoais em escritas assinadas por autores como entre outros.

 Sebastian Wiedemann

 

Um seminário que chega à sua sétima edição, sempre com um título seguindo de “e” três pontos: nova terra e… máquinas devires e… territórios e fugas e… Desta vez o Antropoceno, tempo “marcado pelas catástrofes, pelas mudanças climáticas e nossa ação irreversível sobre as condições materiais de existência, sobre Gaia; parece que nos joga em  direção ao fim do mundo”. Mas a leitura do livro fará o leitor tomar outro rumo. Luiz Orlandi, Whitehead, Brian Massumi, Charles Sanders Peirce, Aylton Krenak, uma lista de nomes entre autores e citados… e autores citados… e citados autores… A questão via Deleuze e a filosofia da diferença é que a flecha inexorável e irreversível do tempo não vai no sentido que se acreditava, nem é uma só. A flecha vem do futuro, não vai ao futuro, ela também vem do passado, mas de um passado que é presente, lugar em que uma verdadeira pororoca temporal atravessa os que nela conseguem sobreviver. Vivemos hoje e sempre vivemos no entre, acontecemos no meio, como lembra Whitehead; a todo tempo são novos tipos de encontros, como diz Luiz Orlandi. O sujeito nasce do evento, e que evento é este? O encontro, o “entre” forças irreversíveis de futuro, forças irreversíveis de virtuais, forças de encontros entre Caos, Gaia, Chronos e Aion. Se o senso comum propaga a ideia de um mundo que é levado ao fim, o “fim do mundo”, “o fim do tempo de chronos”, o que este livro aponta é outra coisa, uma leitura necessária: não se trata de um fim do mundo, mas de um mundo inacabado. Só tem fim o que está acabado e é isto que nos relembra a todo tempo a filosofia do eterno retorno das condições do diferente. Daí o “e” três pontos, “e…”. Referência direta a um dos últimos textos de Deleuze, “Imanência: uma vida…”,  imanência-doispontos-uma-vida-três pontos, como já nos lembrava Agamben, ideia que agora reverbera neste livro, neste resultado impecável da organização de Antonio Carlos Amorim, Susana Oliveira Dias e Sebastian Wiedemann. A universidade se mantendo aberta, uma frase que resume todo o livro e que vem em meio ao texto daquele que abriu às leituras brasileiras o denso Diferença e Repetição de Gilles Deleuze, Luiz Orlandi.     

Silvio Ferraz